Só existo de verdade quando estou escondido numa brecha do tempo no Hotel Danúbio, quando não há roupas nem medo, vergonha nem fingimento, quando somos só desejo e confiança. O resto do tempo me sinto uma cópia falsificada de mim mesmo.
Podem te arrancar um braço, uma perna, tudo bem, você continua vivendo.
Mas a alma?
Sem ela, você é apenas uma caixa de ossos chacoalhando por aí.
A decisão que estou tomando é consciente. Decidi na plenitude de meu livre-arbítrio. Sei que isso é duro, porque sendo assim, ninguém tem direito à culpa e a culpa é o alívio dos fracos.
Lamento, mas concordo com Camus que o suicídio é a única questão filosófica verdadeira. Meu desejo comanda meu destino e a morte é a única liberdade.
Ontem gastei todo o meu dinheiro e comprei um terreno em Marte. Eis a foto, cedida pela NASA, do meu pedaço de felicidade. Sem gente, sem bicho, sem planta, sem carro, sem computador. Eu e a imaginação vamos morar no vazio.
No infinito. Pretendo não manter mais contato com os tolos, nem com os que habitam minha mente em memórias de estúpidos convívios do passado. Adeus.
Tô precisando de colo pra deitar, ombro pra chorar e alguém pra desabafar. Tô precisando tirar esse nó que você deu aqui dentro de mim.